Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Pensamentos, Ideias e Sentimentos.
Se Eu Quisesse, Enlouquecia, de João Pedro George, é uma biografia extensa e meticulosa sobre o poeta Herberto Helder, resultado de sete anos de investigação. Com quase 900 páginas, o livro constrói um retrato completo e humanizado do autor madeirense, desmistificando a imagem do poeta recluso e genial. Através de cartas inéditas, testemunhos próximos (incluindo da viúva e da filha) e documentação rigorosa, George revela um Herberto contraditório: simultaneamente brilhante e atormentado, generoso e egocêntrico, profundamente criativo mas também marcado por traços de machismo e isolamento.
Um dos pontos mais fortes do livro é a sua capacidade de explorar a dimensão psicológica do poeta — os traumas de infância, a solidão, a experiência da fome, a passagem pela guerra e o exílio. No entanto, a leitura pode tornar-se densa e exigente devido à extensão e ao detalhe com que cada fase da vida é abordada. Além disso, a ausência de algumas vozes familiares, como a do filho, pode limitar o equilíbrio do retrato.
Apesar destas reservas, a obra é considerada essencial para compreender Herberto Helder enquanto figura humana e literária, rompendo com décadas de silêncio e construindo uma narrativa envolvente, crítica e profundamente reveladora.
Esta semana, no seu podcast "Intentionally Blank", o autor Brandon Sanderson mencionou a análise da trilogia "O Hobbit", feita por Lindsay Ellis, no seu canal com o mesmo nome.
A análise é apresentada em três vídeos de cerca de trinta minutos cada, oferecendo uma reflexão cuidada e aprofundada sobre as qualidades e os defeitos da trilogia. É um conteúdo especialmente interessante para quem se interessa por cinema, escrita e produção audiovisual.
Em baixo, os respetivos links:
A MINHA VIDA DAVA UM CARTOON
De Portugal para o Mundo - 30 Anos de Humor
Exposição de Phermad
4 julho a 27 agosto 2025
FARO - Galeria da Delegação de São Pedro
👉 INAUGURAÇÃO:
4 julho / 16h30
Presença do autor e apresentação de "RELATOS DE BONDADE E CRUELDADE" uma edição de banda desenhada e cartoon (candidato a melhor fanzine e webcomic PT 2025 editado por Drmakete Lab).
🌍 SOBRE O PRATO A SABOREAR:
Uma série apimentada com quadros fatiados de tributo a filmes que fazem evadir e viajar, pedaços de absurda surrealidade do Mundo e da Sociedade em transformação/evolução. Por fim, tudo servido com raspas de universo fantástico e criativo do chef.
Bom proveito!
Phermad
A premissa desta questão baseia-se na seguinte ideia: "A Joana Marques disse publicamente que nós (os Anjos), não sabemos cantar e isso causou-nos transtornos emocionais, profissionais e financeiros; no valor de um milhão de euros."
Se o tribunal considerar esta premissa correcta, abre o seguinte precedente a favor da comediante: "A dupla de cantores disse publicamente, que eu (Joana Marques), não sei fazer humor e isso causou-me transtornos emocionais, profissionais e financeiros; no valor de um milhão de euros."
Resultado: Empate Técnico.
Serve para ressalvar que a questão da liberdade de expressão não é importante só no meio humorístico, mas é também, de extrema importância em todos os outros sectores da sociedade.
Sem alongar muito, sigo só com um exemplo: todos os engenheiros que foram contra a construção e operação do submarino Titan, foram, de uma forma ou de outra silenciados, com o resultado que todos sabemos. Essa infeliz situação é, no entanto, um microcosmos do que pode acontecer se retiramos a liberdade de expressão em larga escala.
Outra questão a considerar, é que esta, é uma situação altamente conveniente para ambas as partes envolvidas. A ampla exposição mediática que ambos os lados têm recebido possui um valor significativamente superior ao montante em discussão. Seja publicidade positiva ou negativa, trata-se ainda assim de publicidade.
Há umas semanas, enquanto passava por um daqueles sítios cheios de turistas, fui abordado por um grupo de jovens ingleses — deviam andar pelos vinte e poucos anos. Um deles pediu-me que lhes tirasse uma fotografia com o telemóvel de um do grupo. Coisa simples, pensei.
O detalhe curioso é que, como acontece com muitos jovens hoje em dia, alguns estavam com uns quilos a mais… e outros com bastantes quilos a mais.
Ajeitaram-se como puderam para caber todos na fotografia. Eu, com alguma malícia, demorei mais do que o necessário para tirar a foto. Fiz aquele teatrinho: olhar desconfiado para o ecrã, virar o aparelho, clicar sem efeito… como se estivesse com dificuldades.
“Está tudo bem?”, perguntou um deles, lá do meio.
Esperei uns segundos antes de responder, para dar ênfase.
“Estou à procura do filtro de emagrecimento”, disse, com ar sério.
O grupo explodiu numa gargalhada daquelas boas, sinceras. Alguns até se dobraram de tanto rir. Foi um momento leve, espontâneo, daqueles que nos lembram como o humor tem o poder de juntar pessoas, mesmo que não se conheçam de lado nenhum.
Mas, no meio da boa disposição, surgiu uma voz destoante. Um dos rapazes — que, curiosamente, nem era dos mais anafados — declarou com ar ofendido: “Isso é má educação!”
E pronto, o riso ficou ali a pairar, um pouco embaraçado.
Foi então que fiquei a matutar no assunto. Afinal, será que devemos evitar fazer qualquer comentário com uma pitada de humor, só porque pode haver alguém que se ofenda? Mesmo que o grupo todo tenha percebido a graça e se divertido com ela?
Ou será que vale a pena correr o risco — o risco de provocar gargalhadas, arrancar sorrisos, animar o momento — mesmo sabendo que, por vezes, nem todos irão gostar?
A resposta não é óbvia. Mas a pergunta, essa, continua mais pertinente do que nunca.
Na zona onde eu passei parte da minha infância e adolescência havia um “ritual de passagem”. Era bastante frequente que aos rapazes, uma fez feitos os doze anos, fosse oferecida uma espingarda de pressão.
Eu não fui excepção e nessa tenra idade lá me apareceu um tio com a dita espingarda da marca “Flecha”, que era provavelmente a marca mais barata do mercado e que consequentemente tinha um tiro tão lento que se podia ver o chumbinho prateado a sair do cano, para numa elipse, cair logo ali à frente, a não mais de dez metros de distância.
Junto com a dita espingarda vieram acompanhadas histórias megalomaníacas de safaris africanos e bestas terríveis, que o meu tio dizia, com uma palmadinha nas costas, que tinha caçado com uma “flecha” mesmo igual à minha.
No entanto, eu, apesar de ter algum talento para o tiro e para desilusão total de toda a família, (não seria a primeira vez, nem a última) não tinha grande vontade matar nenhum animal.
Não que eu tivesse alguma ideologia vegetariana. Mas desde cedo que entendia que a morte não deveria ser desporto. Que havia algo de errado e completamente arbitrário na morte de um animal pela gloria da apontaria.
Então a solução, que me divertia tardes a fio, era o chamado “tiro à carica”, começava por colocar várias caricas no pavimento e à distancia tinha de se fazer a carica levantar voo.
A carica na realidade é um alvo péssimo quando assente no chão, pois tem um perfil demasiado pequeno, tornando o tiro extremamente difícil. Ora se passa por cima ora se acerta no chão ricocheteando sem tocar no minúsculo alvo.
Mas lá de quando em vez, o tiro saia perfeito na mira, na altitude e em ângulo certeiro, de forma a conseguir apanhar a carica mesmo pela base, o que fazia a carica levantar voo, à laia de disco voador, rodando interminavelmente sobre si própria e a alta velocidade para realizar uma hipérbole longa e lenta para gaudio do sniper adolescente.
Na zona rural em que eu vivia, havia um lugar que nós chamávamos de “regato”. O regato consistia, como o próprio nome indica, na bacia de um pequeno riacho que entretanto, por uma razão ou por outra tinha secado, deixando na planície o relevo côncavo do seu leito.
Numa altura em que não existiam playgrounds ou halfpipes, a concavidade deixada pelo riacho era o lugar ideal para os pré-adolescentes e adolescentes, fazerem todo o tipo de acrobacias nas suas bicicletas.
Eu e os vizinhos da mesma idade, quando sabíamos que os mais velhos iam para o regato, pegávamos nas nossas bicicletas, para entusiasmados irmos ver as manobras acrobáticas que os mais velhos conseguiam e que nós, os mais novos, assistíamos numa mistura de fascínio e terror.
No entanto, o regato ao longo dos anos tinha ganho uma má reputação juntos dos pais, devido à frequência com que os seus herdeiros apareciam em casa com os braços e pernas partidos e de bicicletas destruídas.
Todos nós fazíamos o possível para que os nossos pais não soubessem que tínhamos ido ao regato, em clara violação das ordens dadas, a custo de uma chinelada ou de pior que isso, ficar sem o brinquedo mais valioso que nós tínhamos: a própria bicicleta.
Um dos saltos mais fantásticos que era possível no regato consistia numa rampa, que tinha uma pista de aceleração de quase cento e cinquenta metros, e que alguém, com todos os requintes de malvadez, tinha exacerbado com um capô de carro inclinado sobre duas pedras, o que tornava o ângulo de lançamento ainda maior.
Se o salto fosse efectuado eficazmente era possível aterrar numa faixa de perto de trinta centímetros de largura, que no intenso Verão, era ladeada por todos os tipos de ervas secas e plantas espinhosas.
No entanto, essa rampa, permitia que um adolescente competente, vindo a toda a velocidade, conseguisse um magnífico voo de um metro e meio de altura, que o faria percorrer mais de doze metros pelo ar.
Até que um dia, estando eu sozinho no regato, tive a brilhante ideia de testar a rampa. Se não corresse bem, pelo menos não haveriam testemunhas para assistirem ao meu falhanço. Esta era a qualidade do raciocínio de um rapaz de onze anos que passava as tardes a ver filmes do Rambo, Chuck Norris e Jackie Chan.
Em vez de tentar um salto mais pequeno, decidi que quanto maior a velocidade, maior a possibilidade de sucesso. Então vim o mais para trás possível e acelerei a minha BMX ao máximo, ladeira abaixo, até que atingi a rampa que me lançou num voo fenomenal que durou vários segundos no ar.
O problema era que ninguém me tinha explicado o truque necessário para completar esta manobra com sucesso: aterrar com a roda de trás.
Resultado: aterrei com a roda da frente. O que imediatamente resultou num capotamento da bicicleta, projectando-me para a frente, onde eu falhando completamente a pequena risca de areia da faixa de aterragem, fiz uns dez metros de rojo, raspando a cara e o corpo na erva seca e espinhosa.
Com o passar do tempo os arranhões curaram-se, as dores desapareceram, mas na minha memória ficaram aqueles dois ou três segundos em que voei sem asas exactamente como tinha imaginado.
A minha mãe nunca soube. Mas, imagino eu que, quase quarenta anos depois, se ela ficasse a saber ainda me tirava a bicicleta.
"Tudo É Rio." foi o livro de lançamento da autora brasileira Carla Madeira. Este pequeno livro prende-nos de uma forma inigualável. É um livro pujante, visceral e emocionante que nos derruba com a sua capacidade de retratar a brutalidade da realidade mais comum. É de certo um dos melhores livros que li dos últimos anos.
A Particular Editora decidiu publicar com a capa ilustrada acima, provavelmente por razões de direitos de imagem. Acredito que se tivessem usado a capa da edição brasileira o "Tudo É Rio." teria permanecido por mais tempo nos tops literários portugueses.
Abaixo segue a imagem da edição brasileira de "Tudo É Rio." de Carla Madeira.
Em Loulé, existe um dos cafés mais antigos do pais: o Café Calcinha. O Café Calcinha é um espaço onde, além de se poder beber um excelente café e comer o famigerado "Folhado de Loulé"; também se pode apreciar um pouco do que se faz culturalmente no Algarve. Dentro das várias iniciativas culturais que o Café Calcinha promove, existe uma chamada: "O Clube dos Poetas Vivos."
Esta iniciativa ocorre de quinze em quinze dias, às quintas-feiras, por volta das 21:00. Todas as pessoas que sejam apreciadoras de poesia podem ouvir um pouco da poesia que se vai fazendo por aqui, sob o olhar atento do poeta António Aleixo.
E caso o queira fazer, podem também declamar os seus próprios poemas.
Aqui abaixo segue o vídeo de uma brincadeira minha com as palavras da família do verbo "pensar" seguido do próprio poema.
Aviso: pedimos desculpa pelo barulho de fundo e pelo carregado sotaque algarvio.
A Redundância de Pensar.
Às vezes penso.
Não sei bem em quê.
Outras vezes penso que penso e fico a pensar nisso.
Passo horas a pensar naquilo que penso e nas razões pelas quais penso naquilo que penso.
Penso que poderia pensar noutra coisa que não fosse pensar, mas chego à conclusão de que
não consigo pensar em mais nada,
a não ser naquilo que penso.
Penso que penso para evitar pensar.
Penso que deve ser essa a razão pela qual eu passo tanto tempo a pensar nas coisas que penso.
Talvez seja uma espécie de mecanismo para não pensar nas outras coisas com as quais não penso.
Em que coisas não penso?
Não sei.
Passo muito tempo a pensar nas coisas que penso para ter tempo para pensar naquilo que não penso.
No entanto, não pensar nelas faz-me pensar.
É como se pensar naquilo que penso me protegesse de maus pensamentos.
Assim sinto-me seguro.
Posso pensar à vontade naquilo que penso sem pensar em pensamentos com os quais não quero pensar.
Eu até gosto bastante de pensar.
Pelo menos penso que gosto de pensar.
Dá-me a sensação de que sou um ser pensante.
Neste momento penso no propósito deste texto
e por mais que pense, penso que não tem nenhum.
E isso dá-me que pensar.
No dia 11 de Janeiro foi lançado pela Saída de Emergência o primeiro livro da autora Lucy Angel com o título “Oceânia.”
O “Oceânia” é um livro de fantasia e aventura em que a princesa Catherine é raptada pelo pirata Darin. Ela adormece na sua cama no palácio e quando acorda está presa num navio pirata.
Ela aos poucos descobre o futuro aterrador que a espera e decide que vai fazer o possível e impossível para sobreviver ao seu destino.
Neste livro passado no mar a autora tece uma aventura leve e cheia de peripécias, jogos de fumos e reviravoltas inesperadas dando a entender uma história muito maior do que mostra neste primeiro livro.
A autora escreve com um leveza sucinta que torna o livro fácil e entusiasmante de ler. Acredito que alguns dos leitores uma vez tendo sido agarrados pelo primeiro capítulo sintam dificuldade em largar o livro e não é de todo descabido que o leiam por completo numa assentada.
Parabéns à Saída de Emergência pela aposta em autores portugueses. E parabéns também à autora Lucy Angel que inicia a sua carreira como escritora com o pé direito e em ritmo de corrida.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.